ONU culpa falta de alerta por 15 mil mortes em ciclone em Mianmar
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A ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou nesta terça-feira que o alto número de mortos em Mianmar devido à passagem do ciclone Nargis –que matou ao menos 15 mil, segundo dados divulgados pela TV birmanesa–, foi causado pela falta de um sistema de alarme para retirar a população em caso de emergência.
“Um sistema de alarme antecipado é muito importante, pois um ciclone pode ser previsto com 48 horas de antecedência. Em Mianmar, as autoridades não tinham estabelecido um sistema deste tipo, que salvaria milhares de vidas”, disse hoje Brigitte Leoni, porta-voz do escritório das Nações Unidas para a Estratégia Internacional de Redução de Desastres (ISDR).
Nyein Chan Naing/Efe
Moradores de Yangun após passagem do ciclone; ONU culpa falta de alerta por tragédia
A porta-voz disse ainda que as autoridades birmanesas tinham em seu poder as informações oferecidas pelos satélites meteorológicos que advertiam sobre a chegada do tufão.
“Isso significa que, por não ter um sistema de comunicação e de alerta rápido, a população não foi avisada do que ocorreria e, por isso, não deixou a região”, disse ela.
Nesta segunda-feira, o governo de Mianmar confirmou que já passa de 15 mil o número de mortos pelo ciclone Ao menos 10 mil pessoas foram mortas somente na cidade de Bogalay.
Outros milhares de pessoas estão desabrigadas por conta das inundações e da destruição causada pelo ciclone que devastou o sul de Mianmar entre sexta-feira e sábado (3).
Os sobreviventes enfrentam sua terceira noite sem eletricidade e sem distribuição de água depois que o ciclone varreu a região, fechando estradas e derrubando árvores.
Ajuda da ONU
A Junta Militar de Mianmar–que mantém tensas relações com os Estados Unidos, a União Européia (UE) e outros governos, por conta das pressões que recebe para a realização de reformas democráticas –aceitou o auxílio humanitário que essas nações ofereceram.
AP
Garota passa por ponto de ônibus que foi atingido por árvore após passagem de ciclone
A ONU (Organização das Nações Unidas) vai prestar assistência às milhares de vítimas e desabrigados após a passagem do ciclone tropical. A ONU também quer mobilizar a ajuda financeira da comunidade internacional e propôs desbloquear dinheiro do Fundo de Intervenção de Emergência.
Os problemas mais graves atualmente são o abastecimento de água e comida, material de abrigo e de saneamento.
“Aceitamos a ajuda de outras nações porque nossa população está passando o mal”, disse Nyna Win, que ontem reuniu o corpo diplomático credenciado e os representantes da ONU para expor a grave situação.
Laura Bush
Ontem, a primeira-dama americana, Laura Bush, havia prometido aumentar a ajuda humanitária para Mianmar e criticado a Junta Militar do país por não ter alertado a população com antecedência sobre a chegada do ciclone. “O governo de Mianmar deve aceitar esta equipe rapidamente, assim como outras ofertas de ajuda internacional”, disse.
“É lamentável que muitos birmaneses tenham sabido do desastre iminente só quando a mídia estrangeira, como a Rádio Ásia Livre e a Voz da América, emitiram um alerta”.
“Os Estados Unidos se preparam para enviar uma equipe de assistência e mantimentos de primeira necessidade a Mianmar, assim que o governo birmanês aceitar nossa oferta”, afirmou a primeira-dama.
Estado de emergência
As autoridades declararam estado de emergência nas regiões de Yangun, Pegu e Irrawaddy, e nos Estados Karen e Mon, no sábado passado, quando o ciclone, que havia chegado no dia anterior ao país, estava mais forte.
A população nas regiões afetadas vive há três dias sem provisão de água e de eletricidade e os preços dos artigos básicos dispararam devido à escassez e à especulação.
Yangun, a antiga capital e a maior cidade do país com cerca de cinco milhões de habitantes, parece ter sido um campo de batalha, segundo relatos de testemunhas. Milhares de árvores foram derrubadas pelos fortes ventos, que atingiram uma velocidade superior a 190 km/h.
As comunicações, em particular com o exterior, funcionam precariamente, e a rede de internet permanece cortada desde sexta-feira.
Aeroporto
O aeroporto de Yangun reabriu na segunda-feira com um gerador “que só estará em funcionamento cinco ou seis horas”, segundo avisava um empregado.
AP
Moradores passam por árvore derrubada durante passagem de ciclone em Yangun
A Federação Internacional da Cruz Vermelha começou a distribuir ajudas básicas entre os afetados, como plásticos para cobrir os telhados arrancados pelo ciclone, ou pastilhas para tornar a água potável, além de cobertores e roupa.
Em resposta à tragédia, a Tailândia enviou um avião de transportes C-130 carregado com nove toneladas de alimentos e remédios para Yangun, após a reabertura do aeroporto.
O último grande ciclone a atingir a Ásia foi o Sadr, que matou 3.000 em Bangladesh em novembro do ano passado.
Plebiscito
Também nesta terça-feira, a Junta Militar de Mianmar anunciou que adiará a realização do plebiscito constitucional do próximo sábado (10) nas áreas castigadas pelo ciclone tropical.
Um anúncio da TV estatal informou que a consulta popular ocorrerá em 24 de maio em cerca de 50 divisões das regiões de Irrawaddy, Pegu, Yangun e nos Estados de Karen e Mon, onde se mantém o estado de emergência declarado no sábado, após a passagem do ciclone.
Tais regiões abrigam cerca da metade dos 53 milhões de birmaneses. Segundo as autoridades locais, o plebiscito ocorrerá na data prevista no restante do país.
O plebiscito é o primeiro passo do chamado Mapa de Caminho em direção à democracia do país, que será concluído, segundo afirma o regime, com eleições livres em 2010.
Mianmar é governada por militares desde 1962, e não realiza eleições democráticas desde 1990, quando o partido oficial foi esmagado pela coalizão opositora da Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, um pleito que não teve seu resultado reconhecido pela Junta Militar.
com Associated Press, Efe e Reuters